sábado, 21 de junho de 2008

Os Livros

¤ MAGMA (1936)
Comecei a escrever, quando ainda era bastante jovem; mas publiquei muito mais tarde. Escrevi um livro não muito pequeno de poemas, que até foi elogiado.
Em 1936, concorre com o livro Magma, vencendo o prêmio de poesia da Academia Brasileira de Letras. Pouco satisfeito com seus versos, não permite a publicação do livro, que só sairá em 1997, 30 anos após sua morte.
¤ SAGARANA (1946)
Mas logo, eu quase diria que por sorte, minha carreira profissional começou a ocupar meu tempo. Viajei pelo mundo, conheci muita coisa, aprendi idiomas, recebi tudo isso em mim; mas de escrever simplesmente não me ocupava mais. Assim se passaram quase dez anos, até eu poder me dedicar novamente à literatura....Então comecei a escrever Sagarana
O livro foi escrito – quase todo na cama, a lápis, em cadernos de 100 folhas – em sete meses; sete meses de exaltação, de deslumbramento. (Depois, repousou durante sete anos; e. em 1945 foi “retrabalhado”, em cinco meses, cinco meses de reflexão e de lucidez)
Em 1938, o livro ainda chamava-se Contos, e o autor concorre, com o pseudônimo “Viator”, ao prêmio Humberto de Campos, da Livraria José Olympio Editora. A comissão julgadora era formada por Graciliano Ramos, Marques Rebelo, Prudente de Morais Neto, Dias da Costa e Peregrino Júnior. Rosa obtém o 2º lugar. Graciliano Ramos, num texto de 1946, “Conversa de Bastidores”, narra o acontecido e seu “vago remorso” por não ter dado o voto ao livro. Em 1944, conhece Guimarães Rosa:
“ - O senhor figurou num júri que julgou um livro meu em 1938.
- Como era o seu pseudônimo?
- Viator
- Ah! O senhor é o médico mineiro que andei procurando. Sabe que votei contra o seu livro?
- Sei, respondeu-me sem nenhum ressentimento.
Achando-me diante de uma inteligência livre de mesquinhez, estendi-me sobre os defeitos que guardara na memória. Rosa concordou comigo...Havia suprimido os contos mais fracos.”
Em abril de 1946, Sagarana é publicado pela Editora Universal, de Caio Pinheiro, alcançando sucesso imediato, como uma “revolução” na chamada literatura regional brasileira.
Lendo o livro, Graciliano vaticina:
“Certamente ele fará um romance, romance que não lerei, pois, se for começado agora, estará pronto em 1956, quando os meus ossos começarem a esfarelar-se.”
De fato, em 1956, Rosa publica aquele que é tido como um dos maiores romances da literatura do século XX. Graciliano já não estava aqui para lê-lo.
¤ GRANDE SERTÃO: VEREDAS e CORPO DE BAILE (1956)
Em carta ao pai, de 12 de julho de 1954, Rosa confidencia:
Eu estou trabalhando “burramente”, dia e noite. Para terminar os livros que estou escrevendo – pois, em vez de um, como comecei, a coisa logo virou dois...”
Em 1956, lança as novelas de Corpo de Baile, em dois volumes (824 páginas). A partir da 3ª edição o livro se desdobra em três: Manuelzão e Miguilim, no Urubùquaquá, no Pinhém e Noites do Sertão..
No mês de maio, é publicado o romance Grande Sertão: Veredas (no meio da rua, no redemoinho)
“livro diferente, terrível, consolador e estranho”, diz Rosa. É uma “autobiografia irracional ou melhor, minha auto-reflexão irracional.
Grande Sertão: Veredas é um romance que encena uma fala e uma escuta. Quem fala é Riobaldo, um jagunço aposentado, “com azías e reumatismos”, que conta o que foi sua vida. Quem ouve é o “doutor”, um “senhor” da cidade que visita o sertão, e que permanece com Riobaldo por três dias. Riobaldo fala do que não sabe, e conta para saber, na esperança de uma resposta. Como a fala do doutor não aparece, o sentido da vida de Riobaldo não se finaliza, permanecendo como uma interrogação ao infinito, exposta numa linguagem inédita, que é prosa e poesia, que é oral, mas é escrita, que se constrói de arcaísmos e neologismos, de regionalismos e estrangeirismos.
O livro causa enorme impacto e seu autor passa a ser visto como caso único na literatura brasileira.
¤ PRIMEIRAS ESTÓRIAS (1962) e TUTAMÉIA - TERCEIRAS ESTÓRIAS (1967)
Primeiras Estórias, uma coletânea de 21 contos é publicado em 1962. Contos que são obras-primas do relato curto, como “A terceira margem do rio”, “A menina de lá”, “Sôroco, sua mãe, sua filha”, “Pirlimpsiquice”. Em 1967, publica Tutaméia (Terceiras Estórias), um conjunto de 44 estórias curtas, sendo 4 “prefácios”. O estilo se concentra ainda mais, em 3 ou 4 páginas, em parte devido ao fato de as estórias terem sido compostas para jornal.
- Por que Terceiras Estórias – pergunta a Rosa, Paulo Rónai – se não houve as segundas? O que diz o Autor?
- O autor não diz nada – respondeu com uma risada de menino grande, feliz por ter atraído o colega a uma cilada. Mostrou-me depois o índice no começo do volume, curioso de ver se eu lhe descobria o macete.
- Será a ordem alfabética em que os títulos estão arrumados?
- Olhe melhor: há dois que estão fora da ordem.
- Por quê?
- Senão eles achavam tudo fácil.
“Eles” eram evidentemente os críticos. Rosa, para quem escrever tinha tanto de brincar quanto de rezar, antegozava-lhes a perplexidade encontrando prazer em aumentá-la.”
Os títulos “fora da ordem” compõem as iniciais JGR. Os prefácios-estórias de Tutaméia contém muito do credo poético de Rosa, que neles responde aos críticos que acusavam sua escrita de “não-engajada”: “A estória deve ser contra a História...” é uma de suas respostas. Em um desses prefácios, refere-se a um personagem, “Tio Cândido”, como o mestre que um dia lhe deu a seguinte incumbência:
- “Tem-se de redigir um abreviado de tudo”.
Ele então responde, com o cerne de sua poética:
“Ando a ver. O caracol sai do arrebol. A cobra se concebe curva. O mar barulha de ira e de noite. Temo igualmente angústias e delícias. Nunca entendi o bocejo e o pôr-do-sol. Por absurdo que pareça, a gente nasce, vive, morre. Tudo se finge, primeiro; germina autêntico é depois. Um escrito, será que basta? Meu duvidar é uma petição de mais certeza.”
¤ ESTAS ESTÓRIAS (1969) e AVE, PALAVRA (1970) Volumes de publicação póstuma. O primeiro, Estas Estórias, organizado por Paulo Rónai, traz contos, como “Meu Tio o Iauaretê; Ave, Palavra traz relatos e anotações diversas, num total de 54 textos.

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